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Crítica | Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo

Mas bem que poderia ser o fim.

Atenção: o texto abaixo contém spoilers.

Poucos filmes me deixaram tão perplexos quando as luzes da sessão se acenderam quanto “Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo”. Foi uma sensação parecida com “Power Rangers – O Filme”, de 2017. Mas a aventura com os rangers ainda rendeu boas rizadas, pois conseguiu atingir aquela curva de ser tão ruim que faz a volta. “Saint Seiya” é só… péssimo.

Não que os materiais anteriores sejam fáceis de adaptar para um live-action. Entre diferentes mangás e encarnações em animê, “Cavaleiros” mistura coisas demais. Há a fantasia de armaduras mágicas superpoderosas e deuses gregos que reencarnam em crianças ricas.

Mas há também uma ficção futurista, que envolve adolescentes órfãos musculosos de diferentes partes do mundo, mas originados de “uma mesma semente” (quem sabe jamais deixará de saber). Isso junto de coisas que são calcadas na contemporaneidade, com torneios em estádios tecnológicos, armas, aviões, helicópteros, etc.

Nas páginas de quadrinhos e em animações, esses elementos dissonantes funcionam. E são ainda acompanhados de uma narrativa tão rocambolesca e dramática que o absurdo ganha um charme “kitsch” especial. Charme esse que não existe no filme.

Só que muitas outras coisas não existem no filme: um roteiro coeso, uma direção aparente, atuações consistentes, ou um trabalho gráfico minimamente aceitável. O resultado beira ao amador.

Imagem: Sony Pictures

Na trama, um jovem chamado Seiya (Mackenyu Arata) tem sua irmã sequestrada por uma organização misteriosa quando ambos ainda são crianças. Mais velho, o garoto faz parte do que parece ser um ringue de lutas ilegais para apostas. Numa luta, Seiya provoca a ira de outro participantes, Cassios (Nick Stahl), ao lhe fazer algo terrível: derrubar seu charuto.

Isso é o engate para que Cassios invada a partida para se vingar do antitabagista. As coisas escalam, de modo que Seiya desperta seu “cosmos”, um poder interno que tem ligação com os deuses.

Mas a sede de vingança de Cassios não para por aí. Ao perceber que o Sr. Pulmões Limpos possui o cosmos, ele aciona Guraad (Famke Janssen, a Jean Grey dos três primeiros filmes de “X-Men”), que comanda uma organização que caça crianças com esses poderes para extraí-los e usar como combustível para um par de braços mecânicos utilizados por ela (é sério).

Seiya então é salvo por Alman (Sean Bean, praticamente um Jack Nicholson em comparação com o resto do elenco), que o recruta para servir como um Cavaleiro de Athena. Sua filha, Saori (Madison Iseman), é a reencarnação da deusa grega da sabedoria e guerra. No momento em que o cosmos de Athena despertar, uma guerra entre deuses ocorrerá.

E por saber dessa profecia, Guraad tem também como objetivo assassinar a garota. Isso posto, o filme torna-se um embate entre esses dois lados, com Seiya precisando treinar seus cosmos para que ele seja aceito pela armadura de Pégasus à qual ele é destinado para proteger Athena.

Imagem: Sony Pictures

O enredo tem mais furos do que uma meia velha. Guraad possui uma máquina que detecta onde os cosmos são despertados. Por conta disso, a mansão da Saori é equipada com inibidores que são acionados quando a garota perde o controle do poder. Contudo, os personagens (e o roteirista, e o diretor) parecem esquecer disso, pois não só a vilã precisou do aviso do Cassios para chegar ao Seiya, como não há qualquer movimento quando o garoto utiliza seus poderes durante o treinamento em uma ilha.

Sobre esse aviso do Cassios, a própria cena não tem qualquer nexo temporal. Seiya foge do ringue na luta, recolhe suas coisas no vestiário e é levado por um dos capangas do Alman, que sabe que a equipe da Guraad chegará ali a qualquer momento. Mas o telefonema do Cassios parece ocorrer depois disso, pois ele está em um bar, e não mais no ringue.

É necessária uma boa vontade imensa para aceitar que a Saori seria tão desnecessariamente arrogante e agressiva com Seiya, que, na teoria, estaria ali para protegê-la. E outra ainda maior para a mudança de 180° cenas depois, quando os dois parecem apaixonados sem contexto algum de desenvolvimento.

Piadas com fumo de lado, o filme não dá qualquer background que justifique o ódio de Cassios pelo Seiya. Não faz sentido ele ter uma sede de sangue tão grande a ponto de entrar em uma organização, enfrentar outros guerreiros e declarar que pode assassinar o garoto de graça.

Além disso, há um “vilão final surpresa”, o Ikki de Fênix (o inacreditável Diego Tinoco), que tinha o plano secreto de roubar uma armadura sagrada, que poderia ter sido feito a qualquer momento, mas resolveu executá-lo justamente quando Guraad tenta matar Saori.

E esse plano para matar a jovem abre um outro furo de roteiro que não faz o menor sentido. É utilizada uma máquina “magicotecnológica” para sugar o cosmos de Athena da Saori (já que simplesmente assassiná-la com um tiro no peito poderia despertar a deusa). Ocorre que, no último minuto, a máquina é desligada, quando mais que 90% do poder na menina foi extraído. Contudo, isso acorda a Athena dentro dela, que parece possuir seu poder ao máximo… mesmo ele tendo sido drenado.

Imagem: Sony Pictures

E todo o resto é tão pior quanto. As (na falta de uma palavra melhor) atuações são quase todas monotemáticas. Saori é sempre irritante, afetada e agressiva, até que precisa se tornar uma menina apaixonada, então seu registro passa para o meigo e abobado. Cassios grita o tempo todo. Guraad é interpretada como um robô sem expressões faciais. E o Ikki passa a rodagem inteira com o mesmo sorriso irônico no rosto.

O trabalho gráfico é esquisitíssimo. Ao assistir, preste atenção nos segmentos que ocorrem na ilha onde Seiya vai para treinar. Literalmente dá para perceber os contornos verdes ao redor dos atores e de elementos de cena que cujo chromakey foi mal cortado na edição. Talvez isso só não ocorra em outras cenas porque quase toda a fotografia é exageradamente escura.

Mas louros devem ser dados. Há duas cenas de ação bem legais. A primeira e a já mencionada luta com Seiya e Cassios no ringue logo ao começo. O modo como a câmera “de videogame” acompanha a coreografia de artes marciais me lembrou o que o Corey Yuen fez em “DOA: Dead or Alive” (2006), mas também replica muito do que as irmãs Wachowski popularizaram em “Matrix” (1999).

A outra, mais pro fim, é a que o Mylock (Mark Dacascos) mete bala nos guerreiros da Guraad. Todo o resto além disso é derivativo, pouco empolgante, dispensável e sonolento.

“Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo” tem um orçamento modesto para um filme do tipo (60 milhões de dólares), mas outros diretores de ação e fantasia já fizeram coisas bem melhores com menos grana (“Kill Bill” custou 30 milhões de dólares, “Pequenos Espiões 2” 38 milhões, e estima-se que o “Bleach” distribuído internacionalmente pela Netflix tenha custado menos de 20 milhões).

A diferença é que os filmes exemplificados acima foram feitos por gente com talento. Se esse aí é “O Começo”, melhor que seja também o fim.

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